CAUSAS ESPECIAIS (prefácio)
Este livro não deveria existir (bem, talvez já não seja evidente que a própria humanidade devesse existir, por isso, prossigamos). Ao longo de toda a minha história de relação com o cinema, sempre que um filme me pareceu ilegível não consegui passar a lê-lo através de uma submissão à leitura feita por outrem. Demorou algum tempo até perceber que, se um filme me parece ilegível, isso se deve apenas ao facto de eu ainda não ter aprendido o bê-á-bá da técnica peculiar de leitura que ele pressupõe (depois da infância, o carrossel da aprendizagem não para quando é preciso voltar aos bancos da escola primária). E demorou muito mais tempo até eu sentir, na pele e por baixo da pele, que só consigo perceber um filme através da minha própria leitura. O que diz o Professor Doutor X, a Kardashian Y de umas Sebentas do Cinema quaisquer, ou a Autoridade Z para a Prevenção e Combate à Ignorância, pode por vezes não parecer mais que um Estábulo para onde um Príncipe está a olhar – cada entendi...